Projeto de Doutoramento ao abrigo do Programa Interuniversitário de Doutoramento em Psicologia Clínica: Intervenção Familiar das Faculdades de Psicologia da Universidade de Lisboa e da Universidade de Coimbra

A chegada de um filho é um dos momentos mais transformadores na vida de um casal. A transição para a parentalidade traz uma reorganização profunda, tanto a nível individual como relacional, sendo uma fonte de grande alegria, mas também de desafios significativos. Este período, que começa na gravidez e se estende até ao primeiro ano após o parto (período perinatal), é frequentemente um momento de vulnerabilidade para as dinâmicas familiares. A adaptação aos novos papéis parentais exige uma mudança completa nas rotinas e prioridades do casal. Muitas vezes, o foco recai quase exclusivamente no papel de pais, deixando a relação conjugal em segundo plano.

Este processo pode originar:

• Aumento do stress e dos conflitos no casal, devido à sobrecarga de responsabilidades e alterações na dinâmica familiar.

• Mudanças na dinâmica relacional, com o foco predominante na parentalidade em detrimento da relação conjugal.

• Desafios emocionais e físicos, incluindo privação de sono, alterações hormonais e impacto na autoimagem.

Um dos aspetos mais afetados durante esta transição é o bem-estar sexual do casal. Estudos mostram que até 88% das pessoas gestantes e 47% das suas parcerias relatam uma diminuição significativa na sua vida sexual durante a gravidez, com dificuldades muitas vezes persistentes no pós-parto. Mesmo ao fim de 12 a 24 meses, até 83% das pessoas gestantes e 45% das suas parcerias continuam a enfrentar problemas nesta área.

​

Entre os fatores que contribuem para esta realidade destacam-se:

• Aumento do tempo e da energia dedicados aos cuidados parentais, que reduz o espaço para a intimidade.

• Divisão desigual de tarefas domésticas, gerando frustração e desgaste emocional.

• Impacto das mudanças físicas na autoimagem, exacerbadas por padrões sociais de beleza.

• Foco nos papéis parentais, que pode fazer com que o casal se veja mais como “pais” do que como parceiros.

Estas mudanças têm implicações para a relação conjugal e para o sistema familiar como um todo. A diminuição do bem-estar sexual e relacional pode levar ao aumento de conflitos, distanciamento emocional e, em alguns casos, até à dissolução da relação. Estas dinâmicas podem também impactar a saúde mental dos pais e a qualidade do vínculo com o bebé.

​

Por outro lado, casais que conseguem enfrentar estes desafios de forma conjunta, através de um processo conhecido como coping diádico, tendem a adaptar-se melhor. O coping diádico refere-se à forma como os parceiros gerem em conjunto os acontecimentos stressantes, apoiando-se mutuamente e encontrando estratégias para lidar com as mudanças. Este trabalho em equipa não só protege a relação conjugal como também cria um ambiente mais harmonioso e saudável para a família.

Compreender as dinâmicas associadas à transição para a parentalidade, incluindo os impactos na vida sexual, é essencial para apoiar os casais neste percurso. Identificar estratégias eficazes que promovam o bem-estar emocional, relacional e sexual ajuda a criar famílias mais saudáveis, conectadas e felizes.